Showing 254 results

Authority record
António Ferreira Gomes
AFG · Person · 1906-05-10 - 1989-04-13

António Ferreira Gomes nasceu em 1906-05-10 na freguesia de Milhundos, concelho de Penafiel, filho de Manuel Ferreira e Albina Rosa de Jesus, ambos agricultores e residentes do lugar de Quintela. Sendo o quarto de um total de 10 filhos pelo referido casal sendo os seus irmãos e irmãs:
• Maria da Glória (1902-05-31 - 1987-06-12)
• Jorge (1903-03-05 - 1961-11-02)
• Emília (1904-11-06 - 1982-07-06)
• Inês (1908-01-21 - 1990-03-04)
• Inácio (1909-11-28 - 1964-11-08)
• Maria Antónia (1911-05-15 - 1991-08-18)
• Agostinho (1915-05-28 - 1939-02-19)
• Joaquim Ferreira Gomes
• Alberto Ferreira Gomes
Em 1916-10-16 ingressou nos estudos religiosos, por influência do seu tio o cónego Joaquim Ferreira Gomes, no Seminário de Nossa Senhora da Conceição (Porto) tendo concluindo esses estudos em 1925; segue-se a matrícula na Universidade Gregoriana Roma para frequentar o curso de Filosofia que conclui em 1928. Nesse mesmo ano ocorreu a sua ordenação sacerdotal como presbítero no dia 9 de Setembro na Torre de Marca (Porto), cerimónia presidida pelo António Barbosa Leão – bispo do Porto.
Também no ano 1928 foi nomeado prefeito e director de disciplina no Seminário de Vilar (Porto), função que desempenhou durante 8 anos até ser nomeado cónego da Sé do Porto em Janeiro 1936; continua a desempenhar funções pedagógicas no Seminário do Vilar como professor de Filosofia e como Vice-Reitor dessa instituição religiosa.
A sua progressão clerical irá alterar-se com a notícia da nomeação de António Ferreira Gomes para o cargo Bispo Coadjutor de Portalegre, com direito a sucessão e Bispo Titular de Rhandus em 1948-01-15; sendo a sua ordenação episcopal realizada na Sé do Porto presidida pelo Agostinho de Jesus e Sousa – Bispo do Porto, Manuel Maria Ferreira da Silva – bispo titular de Gurza e por D. António Valente da Fonseca.
Deu entrada na sua diocese em 1948-05-29 e sucedeu como bispo de Portalegre em 1948-06-06 pelo óbito do seu antecessor D. Domingos Frutuoso.
O seu episcopado na diocese de Portalegre será relativamente curto, sensivelmente quatro anos, todavia foi neste cargo em que se manifestou a sua preocupação pela condição socioeconómica precária dos trabalhadores rurais portugueses. Para combater essa situação planeia a fundação de uma associação agrária com o objetivo de difundir a doutrina social da igreja e procurar combater as lacunas matérias e morais da população da sua diocese.
Na implementação deste projecto participam duas figuras: José Pequito Rebelo – engenheiro e proprietário agrário do Alentejo que sugere a implementação dessa associação abrangesse as dioceses de Beja e Évora para além de Portalegre, proposta que António Ferreira Gomes rejeita; e a outra figura é a de Nuno Vaz Pinto – engenheiro que promove a implementação da associação canónica “Acção Social Agrária” em 1951; outra associação será patrocinada por António Ferreira Gomes com a criação da “Fraternidade Operária” em 1951-04-08.
O seu episcopado em Portalegre terminou em 1952-07-13 quando é nomeado bispo do Porto; Toma posse por procuração a 14 de Setembro do mesmo ano e entra na diocese do Porto 1952-10-12, uma vez que continuou como Administrador Apostólico de Portalegre até à tomada de posse do sucessor, D. Agostinho Lopes de Moura, a 2 de Maio de 1953.
O seu episcopado na diocese do Porto será o mais célebre devido ao seu exílio em 1958-10-18, mas foi precedido por acontecimentos que demarcavam António Ferreira Gomes como um não apoiante da ditadura do Presidente do Conselho Ministros António Oliveira de Salazar e opositor da implementação do comunismo em Portugal.
Em 1954-01-25 promoveu uma manifestação a propósito da perseguição religiosa dos católicos na Europa de Leste; manifestação essa que foi criticada por 2 membros Movimento Nacional Democrático: Rui Luís Gomes e Virgínia Moura – membros do Partido Comunista Português.
Entre 1954 e 1955 tenta em vão que o episcopado português se manifeste publicamente, através duma pastoral relativa às condições sócio económicas dos trabalhadores portugueses (Pinho, 2004, p. 15)
Em Março 1956, por ocasião da implementação do “Movimento por um Mundo Melhor na Diocese”, publica um texto reflectindo sobre a doutrina social da Igreja e defendendo a “…justiça e…liberdade como fulcros da personalidade humana.” (Pinho, 2004, p. 11)
No ano de 1958 profere a homília “Lucro e os direitos humanos, contra o capitalismo” e por último a “Carta a Salazar” datada a 1958-07-13, que foi divulgada na imprensa sem o seu consentimento, na qual crítica o corporativismo português, bem como o Estatuto do Trabalho Nacional afirmando que ambos não tinham como base no “…direito natural, nem na moral católica…”(Pinho, 2004, p. 19)
Este documento causou grande impacto na imprensa, magnificado pelo facto aparecer publicamente durante a campanha do general Humberto Delgado à Presidência da República.
Em 1959 António Oliveira Salazar solicita expressamente a exoneração de António Ferreira Gomes da diocese do Porto à Santa Sé (Barreto, 1998, p. 24), pedido que foi negado, mas foi alcançado a retirada do bispo do Porto do território nacional em 1959-07-24 e sendo impedido de retornar à sua diocese em 1959-10-18 (Barreto, 2019, p. 1)
Começa então o seu exílio em Vigo, de seguida em Santiago de Compostela e depois fixa-se Valência entre os anos 1959 - 1963-12-04, para após a segunda sessão do Concílio Vaticano II mudar a sua residência para Beuel na Alemanha fixando-se lá entre Dezembro de 1963 e Dezembro 1964 (Pinho, 2004, p. 19)
A última etapa do seu exílio ocorreu em Lourdes – França onde se fixou entre Dezembro 1964 e Fevereiro 1969; após esta data deslocou-se para Espanha junto da fronteira portuguesa aguardando a autorização para o retorna à sua diocese que foi concedida em 1969-06-18 pelo presidente Marcello Caetano (Pinho, 2004, p. 26) retornando à sua diocese 1969-06-19.
Durante o seu exílio destaca-se o seu trabalho pastoral ao serviço das diversas dioceses que o albergaram, com uma particular nota sobre o seu serviço pastoral aos imigrantes portugueses em França durante a sua estadia em Lourdes.
Destaca-se também a sua participação no Concílio Vaticano II em Roma, como membro da Comissão dos Seminários e Estudos, participa na aula conciliar com intervenções de interesse, relativas ao esquema dos bispos, do ecumenismo, da Igreja no mundo e da liberdade religiosa entre 1963-1965 (Fundação SPES - Breve Perfil Biográfico)
Regressado do exílio não deixou de ser alvo de controvérsias nem de expressar o seu pensamento publicamente, como por exemplo: presença e defesa no julgamento do Mário Pais de Oliveira – padre nos dias 7 e 8 de Janeiro de 1971, em 1972 proclama a homilia “O ministério sacerdotal e a paz” relativo à legitimidade dos capelães militares, como um corpo militar e não exclusivamente religioso, foi acusado de denegrir os capelães militares e as Forças Armadas Portuguesas em geral por parte de alguma imprensa e de políticos na Assembleia Nacional (Pinho, 2004, p. 29-30)
No ano de 1973 crítica o prolongamento da guerra colonial em Portugal (Pinho, 2004, p. 30) e numa conferência em 1974 discursa na conferência “Os direitos do Homem na tradição portuguesa antiga” em Coimbra no dia 22 de Março
A revolução 25 de Abril de 1974 não pára a produção literária e os discursos de António Ferreira Gomes, no pós 25 de Abril defende que a Igreja Católica e o novo estado democrático deveria ser independentes entre si como afirma “…Igreja livre no Estado livre…”(Pinho, 2004, p. 32)
Em 1975 apela pela reconciliação entre os portugueses uma vez que espectro da guerra civil parecia iminente; em 1977-01-20, numa carta à Comissão Diocesana Justiça e Paz, crítica o espírito vingativo que os antigos membros da antiga PIDE/DGS estavam a ser julgados afirmando “Tais exigências, além de serem decerto ilegítimas e inviáveis em processo penal, não poderiam senão conduzir à injustiça e ao absurdo. Julgar o regime nos homens da PIDE, mas só neles? E o Exército português? E a Universidade portuguesa? E a Imprensa portuguesa na sua generalidade? E a Igreja portuguesa…E os partidos democráticos, que antes do 28 de Maio tornaram inviável a Primeira República? E o Povo Português, que só tarde acordou para aquilo que tinha deixado perder?!...”
Em 1971-08-21 escreve o seu testamento, no qual doa a documentação acumulada e produzida ao longo da sua vida à fundação SPES, fundação criada por este testamento e defina nestes termos:
• “A Fundação Spes é uma instituição de natureza perpétua, de fins benéficos, educativos e culturais, sob inspiração cristã.”
• “A acção da Fundação Spes desenvolver-se-á em toda a Diocese portucalense, com preferência para as cidades do Porto e Penafiel, Vila Nova de Gaia e seus termos.” (Fundação SPES - Testamento)
A sua intervenção em temas fracturantes diminui ao longo da sua última década de vida; é alvo de homenagens: a 7 de Agosto de 1980 é lhe concedida a Grã-cruz da Ordem da Liberdade e a 20 de Maio de 1982 é homenageado na Assembleia da República; em 1982-02-15 é exonerado do cargo de bispo do Porto tendo em 1982-05-02 mudado a sua residência para Quinta da Mão Poderosa – Ermesinde.
A sua produção literária abundante não abrandou como bispo do Porto resignatário como se pode constatar pela publicação do livro “Cartas ao Papa” em 1987, dois anos antes da sua morte, no qual reflecte sobre a posição da Igreja Católica face à emergência de novos problemas impostos pela sociedade contemporâneas desde a cultura até às armas nucleares.
O bispo do Porto resignatário morre em 1989-04-13 deixando um legado literário e cultural digno de nota no panorama da sociedade portuguesa do séc. XX.