Madre Maria da Santíssima Trindade nasceu no Funchal a 22 de maio de 1893, filha de João Pedro de Ornelas e Vasconcelos, senhor do morgadio de Machico, e de D. Maria do Monte Trindade e Vasconcelos, filha do Dr. Joaquim Ricardo da Trindade e Vasconcelos. Do casal nasceram ainda José Nicolau, nascido em 1892 e Maria da Graça, nascida em 1903.
É batizada a 7 de junho na igreja de S. Pedro do Funchal como Leontina Trindade de Ornelas e Vasconcelos, sendo seus padrinhos Sara Bettencourt da Câmara e Tristão Bettencourt da Câmara. Durante a infância, demonstrou uma imaginação fértil e uma personalidade dinâmica e ativa: participou em diversas procissões e festas no Funchal, junto do pai, de quem era bastante próxima. Em 1908, o irmão José Nicolau, que havia sido enviado para Lisboa para estudar como aluno interno no Colégio de Campolide da Companhia de Jesus, após concluir o ensino primário no Funchal, contraiu tuberculose, vindo a falecer em casa 2 meses depois.
Leontina estudou no Colégio das Irmãs Missionárias de Maria, inicialmente como aluna interna e mais tarde como aluna externa, depois da família se ter mudado da Ribeira-Seca para o Funchal. Desde sempre envolvida nas festividades religiosas e tradições do meio madeirense, fez a sua primeira comunhão no Colégio. À saída do Colégio passou a ter aulas com professores escolhidos pela mãe de entre estudiosos e cultos da ilha, recebendo educação em literatura, ciências (principalmente matemática) e filosofia, bem como formação doutrinal e espiritual. Ainda bastante jovem, manifestou vontade de entrar para as Irmãzinhas dos Pobres, mas foi dissuadida pela mãe alegando que a sua saúde não lhe permitia um trabalho tão pesado.
No início de maio de 1914, partiu com a mãe e a irmã para Leipzig, para melhorar as lições de piano desta. O começo da Primeira Guerra Mundial obrigou-as a procurar asilo temporário em Lausanne, onde Maria da Graça foi colocada no Instituto Católico da Congregação das Irmãs da Apresentação de Maria, com a qual Leontina entra em contacto pela primeira vez.
Leontina também se instalou no Instituto como pensionista quando a irmã se tornou aluna interna, após a partida da mãe para Portugal devido a questões relativas aos bens familiares. Enquanto convive com a congregação e com as suas religiosas, aperfeiçoou o seu conhecimento de francês; foi admitida no Curso superior do Instituto e auxiliou a sua instrutora no ensino de matemática às restantes alunas. Durante este período, fascinou-se com a personalidade, vida e história da fundadora da Congregação das Irmãs da Apresentação de Maria, Madre Maria Rivier, e decidiu juntar-se à Apresentação assim que possível, bem como estender a ação desta a Portugal.
Em julho de 1916, as irmãs partiram para Lisboa. Leontina tornou-se mestra no Colégio Inglês, de modo a adquirir experiência, com a qual pudesse contribuir para a instituição da Congregação das Irmãs da Apresentação de Maria em Portugal. É no Colégio que conheceu a futura Irmã Maria de Jesus, sua grande amiga e confidente.
Em 1918, com o falecimento da mãe e de acordo com os seus últimos desejos, as irmãs escrevem à Irmã do Bom Pastor e pedem que esta as acolha: partem em direcção à Suíça poucos meses depois. Já em 1919, Leontina parte de Lausanne, onde retomara as lições de matemática, para a Casa-Mãe de Bourg-St-Andéol, ingressando no Postulantado do Noviciado da Apresentação de Maria a 11 de fevereiro.
Realiza o seu “ano de paróquia” (período de experiência apostólica vivida numa das obras da Congregação) no Colégio da Vila Loreto, na Bordighera italiana. Durante a sua estada, é descrita por testemunhas como uma pessoa carismática com grande sentido pedagógico: explica hinos da Igreja, ensina latim, liturgia, matemática e desenho, estando ainda encarregue da decoração da Capela. É-lhe então entregue o hábito de noviça pela própria Madre Geral Santa Honorina, a quem propôs a fundação de uma Província em Portugal. A concordância é dada, contando que lhe fossem apresentadas 20 vocações portuguesas para a Comunidade como prova do interesse local no projeto.
Após as férias da Páscoa de 1920, Leontina viajou com a irmã para a Madeira. À chegada, discutem com os sacerdotes locais sobre as características da Congregação da Apresentação de Maria e a sua busca por vocações, conseguindo o apoio do Prelado do Funchal para levar numa fase inicial 11 potenciais religiosas consigo para França.
Com a conclusão do seu ano canónico no Noviciado, Leontina realizou a 12 de Setembro de 1921 a sua Profissão Religiosa (de votos temporários) enquanto Irmã Maria da Santíssima Trindade. Permaneceu durante algum tempo junto das vocações trazidas da Madeira, ensinando-lhes francês, moral e religião.
Após um retiro de contemplação sob a tutela de jesuíta desconhecido, a cerimónia de Profissão Perpétua da Irmã Trindade realizou-se no Funchal a 8 de Setembro de 1926, pelo seu estado de saúde não permitir realizar a viagem até à Casa-Mãe, como seria habitual. Em 1941, após obter licença da Casa-Mãe e de Roma, a Irmã Trindade estabeleceu na “Quinta da Boa Vista”, em Palmela, o Noviciado da Província Portuguesa, assumindo o cargo de Mestra de Noviças no início do ano seguinte, durante o qual este ainda é visitado pela Madre Marie Sainte Blanche, à época Superiora Geral da Apresentação de Maria. Em 1946, realizou junto das Irmãs Maria de Jesus e Maria da Pureza uma viagem pela Europa em visita a diversas Obras ligadas ao serviço social, com vista a aprofundar os seus conhecimentos para o ensino do tema, participando no processo em diversas conferências pelo continente. Em 1947, completou 25 anos da sua Profissão Religiosa e foi reconhecida como Provincial da Apresentação de Maria, sendo a partir dessa designação referida como Madre Trindade. Ainda no mesmo ano, deslocou-se a Moçambique e à África do Sul; acompanhou a Superiora Geral Madre Jeanne d’Arc ao Senegal em 1951, já como Delegada Provincial, retornando em seguida a Moçambique para presidir à inauguração do novo edifício do Colégio D. António Barroso. Em 1961, no contexto do encerramento do Colégio da Quinta dos Bonecos pela devolução da propriedade e subsequente mudança da Casa Provincial para a Quinta da Boa Vista, em anexo ao Noviciado, terminou igualmente o limite do seu mandato: após a eleição de uma nova Delegada Provincial, Madre Maria da Anunciação, a Madre Trindade foi nomeada como sua Assistente. Ocupa-se principalmente da gestão das missões em África, visitando novamente nesse ano as comunidades de Moçambique e empreendendo as Missões da Machava em 1963, do Sagrado Coração de Maria em 1964, e de Nossa Senhora Conceição em 1967. Em 1968, participou pela última vez no Capítulo, em Castel Gandolfo, sendo as Bodas de Ouro da sua consagração religiosa celebradas em 1971 na Casa Central da Província Portuguesa, que recebe a propósito da ocasião a visita da Madre Jean-Théophane, à data Superiora Geral da Apresentação de Maria. Abandonou o Governo da Província pouco depois; deixou de escrever em 1972, retirando-se para S. Pedro de Alcântara, onde vem a falecer dois anos depois, a 16 de julho de 1974, com 81 anos.
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Registo de autoridade
Pessoa singular
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1893-5-22 1974-7-16